O termo tem algo do contexto histórico no qual foi iniciado aqui no Brasil.
Não interessa ao todo. Maniáco, mania, manicômio. Tudo dá no mesmo.
Fato é que dado momento eu me peguei em analisar o mais típico traço do comportamento humano.
Talvez, eu diria, o único que realmente nos distancia dos animais em geral.
Manias!!!
Todos as temos, alguns em maior e outros em menor grau.
Das mais inacreditáveis às mais comuns e quase imperceptíveis.
Diferente do hábito e da compulsão. Impares ao instinto e alheias ao consciente.
Não é como respirar, não é como piscar. Estão pras nós como aquelas súbitas rajadas de vento na rua.
Conheço um cara que tem mania de bater no peito quando fala do time, e não é impafia ou arrogancia, é mania mesmo. Um olhar atento percebe se tratar duma coisa somática, quase genética que herdou do pai. Seu Antunes, o Bigode da vila. Gremista fanático, dos tempos do Everaldo. Orgulhoso que só. Depois de ver o Everaldo subir no avião que o levaria pro México, na maior campanha que a seleção brasileira já teve. Batendo no peito ali, diante da escada do Salgado Filho, chorando ao ver seu ídolo jovem representar os Gaúchos na seleção.
Batendo também no peito, chorou de novo em 1974 quando precoce nos deixou o grande idolo num acidente de carro.
Um vizinho meu, passava manhãs e tardes na sacada. Cada 5, 6 minutos, ele se levantava, arrastava o banquinho, desses de madeira, velhos, voltava e sentava.
Repetidamente. Várias vezes ao dia.
Seu Schmidt trabalhava numa marcenária próxima e era lúcido, um senhor alvo de uns cinquenta e poucos anos, matemático aposentado, não era nenhum louco não.
Mas quando veio da Alemanha do pós guerra, onde viu seu pai ser arremessado ao ar por uma mina terrestre, quando simplesmente sentavam num banco no jardim central pra beber chá...
Lucas, o cara mais alto da minha classe de cálculo, volta e meia na biblioteca, saia e voltava da mesa com um livro às mãos. Sem notar colocava na mochila, num gesto natural de quem colhe frutas numa arvore, ia-se embora e sorrindo assoviava.
Uma vez na casa dele, causei-lhe certo constrangimento quando perguntei como ele tinha tantos livros em casa... daí percebi que sua mania de pegar livros tornara-se uma compulsão. Tivera uma infância pobre e cheia de frustrações, daquelas histórias tristes onde se pega pão na mercearia pra não passar fome. Ele mesmo antes de ter uma memória, com seus 3, 4 anos, mesmo com altura duma criança de 6 anos, pegava pães do Português na padaria pra poder se alimentar.
A minha ex namorada Deise, um Deisastre como a gente a chamava, era uma legitima destruidora. Obliterava coisas sem qualquer motivo. Pratos, copos, quadros, livros.
Mania de destruir praticamente tudo, corações, lares, poemas..
Da mesma forma como seu pai, antes de morrer de cirrose, alcoólatras inverterado que batia na mãe quando Deise estava aprendendo a caminhar.
Luizinha, a loirinha mais morena que eu conheço, olha pros dois lados antes de fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Tia Marli, a tia/mãe adotiva da Luiza, era dessas mães paranóicas que cria os filhos numa bolha de ar, protegidos do mundo, sem sol e sem som. Tanto que a Luiza depois de se formar em direito pela Federal, foi morar na praia.
Eu volta e meia bagunço o cabelo na parte da nuca, olho o celular e ajeito os bolsos da calça.
Ontem especificamente, percebi minha mania de colecionar coisas brancas.
4 Camisetas comuns de manga curta, mais 2 de manga longa, 2 pólo, 4 camisas, 12 cuecas, 10 pares de meia incompletos.
To cercado de maniacos.
Observei aqui na empresa mesmo, o entregador sempre entra com o pé direito em todos os lugares, e nunca serve café em nenhuma xicara que não seja a dele.
Cheios de manias.
Mania de dizer bom dia, mania de dizer te amo.
Mania de sorrir, de chorar.
Mania de olhar os dois lados antes de atravessar a rua, mesmo que seja mão única.
Mania de olhar pra trás, mesmo estando contra a parede.
Minha mania de escrever, ainda que...
não resulte em nada.
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