...Sem me importar com o barulho que faria, fechei o portão atrás de mim. A porta eu empurrei com o pé direito, enquanto o pé esquerdo abria a geladeira pra pegar uma lata de energético.
Tava guardando pro fim de semana, mas, ainda tem 23 latas. Uma só não me mata.
Dei um gole seco na garrafa com a tarja laranja. Acompanhado pelo "ahhhh" que etilico me salva, o siêncio que se desenrola após bebermos o veneno.
Com o fone de ouvido ainda estragado, escutava uma das músicas da seleção que eu tinha feito pra gente.
Joguei os fones no canto e desliguei o celular. Esse tá desligado até agora.
Apaguei a luz do corredor e subi a escada em caracol que leva pro meu quarto.
A chave joguei naquela gaveta que fica no canto, no chão.
Cruzei os braços atrás da nuca e cai pesado no colchão que está jogado no chão.
Tirei os tênis, cada um com o pé oposto, chutando longe só pra descontar o descontentamento e liguei a TV com o pé mesmo.
Fiquei olhando aquela lâmpada incandescente até meus olhos doerem e quase ficar cego.
Não conseguia ouvir nada.... Impressionante mas nenhum som entrava nos meus ouvidos.
Só o do vento passando pelas folhas e pedindo silêncio na rua.
A janela que bateu com muita força na parede do outro quarto me trouxe de volta daquela viagem e levantei de sobressalto, já decidido a colocar os tênis e o casaco mais pesado.
Sem ter muita certeza eu sai pra rua da mesma forma que entrei em casa. Displicente, barulhento e indiferente.
Aquele vento gelado no rosto, meu casaco verde favorito ondulando no ar em movimento.
A forma como a luz dos postes parecia se desfiar em raios alaranjados e as folhas secas rolando pelo chão com aquele vento que retorcia os galhos e assustava os cachorros.
Jesus bem ali na esquina, mendigando como todas as noites. Maltrapilho e com um colchão nos braços, salvo do frio por uma parede, sua unica salvação naquela noite.
Apostei corrida comigo mesmo até o ponto de onibus e perdi. Perdi o fôlego e algum resquicio de razão que ainda me tinha restado.
A cabeça tão cheia de razões que eu desconhecia, cercada de idéias e eu aqui, me sentindo uma peça de museu, ultrapassado homem antigo do século passado. Com meus sapatos cansados e meu hálito de vodka.
Desde um tempo que antecede a existencia, a luz e a sombra, o certo e o errado, uma treva e um clarão.
Vivem num equilibrio ciclico, se enfrentando dentro da minha mente noite e dia.
Numa batalha tão complexa como o nascimento e a morte de uma estrela.
Onde não há lado bom nem lado mau, apenas o lado que estamos nesse momento. Ora um, ora outro.
Essa batalha que em dado momento na história desse universo que vivemos, ocorreu entre um tigre e um dragão, esse momento que foi eternizado na minha pele, com tinta preta e agulha prata.
Em sombra e luz, essa batalha sem vencedor, sem perdedor, cujo único sentido de existir é o fato de que é necessária pra que a vida continue.
Todo inicio precisa ter sido um fim antes de novamente começar e assim, nesse ciclo ininterrupto como se fosse energia gerando energia e força gerando ação, ação gerando reação.
O momento que precede o impacto, é o de maior paz. Como quando me joguei do segundo andar, pra ver se ainda sabia voar e, me doeu mais saber que minhas asas não estavam lá, do que bater a cara no concreto.
Sai vivo, por obvio, ileso até, mas a que custo? Abri mão daquilo que me faz ser quem sou, pra ser alguém que gostaria.
No onibus que rumava em direção ao leste, vi as ruas e as arvores passarem. Vez que outra alguem sem pescoço com os ombros grudados na própria face e as mãos no bolso passava rápido como uma bala pela janela.
Esse frio e esse escuro da noite me protegiam e garantiam a solidão necessária pra se pensar. Havia muito o que considerar.
O sexo vendido nas esquinas não me atraía. Nem as luzes de um bar. Nem o conteudo de suas garrafas solitárias na prateleira.
Caminhei pensando no que tinha dito a tarde pra uma conhecida. Sobre a dúvida e a certeza.
Citei um trabalho de conclusão que fiz no seminário.
Mas.. isso já é historia pra outra hora.
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