... Cheguei por volta das 23:00, cansado e com o nó da gravata desfeito.
Abri o portão devagar pra não chamar atenção e só fiz um afago no cachorro pra que esse não me denunciasse.
- Ela arrumou o jardim de novo! Linda essa tulipa, mas aposto que o cão come em dois dias...
A mão teimava em levantar até a fechadura, mas ainda sim com o casaco no braço esquerdo, girei a chave e puxei com a outra mão a maçaneta silenciosa e macia.
Ela estava linda naquela minha calça de moleton cinza bem larga, cabelo amarrado alto deixando o pescoço a mostra.
Ai como eu amo aquele pescoço branquinho e cheiroso!!!
Sempre me dá ânsias de chegar por trás de mansinho e morder ele, chegando à orelha e dizendo o quanto estive com saudade.
De costas pra mim e pra porta marrom, ela mexia o feijão que levantava um cheiro de louros e manjericão que me fazia lembrar da infância.
Ouvi os sussuros que ela de leve cantava na nossa música .
Com passo leve do meu sapato preto, eu caminhei devagar até ela. Sem alarde abracei pela cintura, a mão com as flores passou mais alto na frente do rosto dela, que ouviu minha voz dizendo rouca um "te amo, tava com saudade...". Com sorriso lindo e aberto, os olhos ainda fechados quando respirou fundo o meu cheiro, ela passou as mãos macias no meu pescoço.
Se virou como sempre fazia e levantou-se sobre os pés pra me beijar.
Combinamos não ter muitas coisas decorando a casa, mas era aconchegante e nosso sofá bem grande, afinal era nosso ninho. Peguei ela pelo colo sem muita dificuldade, deixando cair a colher ela só disse: "seu louco.." antes que eu a beijasse de novo.
Não importava que a semana toda não conseguisse tempo de respirar sem pensar nela, ou mesmo quando ligava só pra dizer bom dia. Era ela que me dominava os pensamentos.
Deitamos ali, ela sobre o meu colo em silêncio, me olhando com aqueles olhos que reflectiam meu rosto. Me lembrei de como eu disse que ela me fazia ver melhor a mim mesmo naqueles olhos e de como as coisas foram no começo.
A indecisão, o medo e até o receio. Dúvidas de toda sorte que sempre se desenham na nossa cabeça.
Voltei daquilo no meio do ..."esligar o fogo do feijã..."
Sai dali também, dizendo que já voltava peguei minha toalha azul e fui pro banho.
Liguei o aquecedor e olhei no espelho aquela cara cansada.
- Vou fazer essa barba como sei que ela gosta...
(*bocejo acompanhado dos braços esticados... e ahhhhhhhhh cansera)
Entrei no chuveiro como sempre faço, pé direito, braço esquerdo, bom se a agua está quente, cabeça, costas...
Aqueles sagrados minutos debaixo d'agua quente pensando na vida. Maior prova de que o tempo é relativo.
Duas batidas do lado de fora da porta tiveram como resposta um "tábertooo".
O rosto coberto de dois fios de cabelo preto fazendo bico adentra porta, a pergunta é simples.
- Quer carne também? A resposta mais ainda, "alguma vez eu não quis?"
Sorrindo como veio, depois de mandar um beijo, virou, fechou a porta atrás de si e voltou pra cozinha.
Olhei no relógio por quase 1 minuto pra saber que eram 23:34, nunca aprendi direito a ver os ponteiros mas, o relógio era tão lindo que eu não me desfaria dele por nada.
Secando a cabeça sai só de cuecas pela casa até o quarto e ouvi um "beeeeem, tá pronto" sair da cozinha quando terminei de vestir a camiseta.
Uma mesa pra três, dois sentados, se olhando.
Peguei a mão dela, macia, lisinha e de unhas recém feitas. Olhei nos olhos de novo antes de me levantar arcado na direção dela beijando-lhe a testa.
O feijão tinha aquele gostinho tão delicioso que quando o aroma invadiu minha boca, senti a saliva chegando ao fundo da boca.
Na primeira sempre esqueço de assoprar, engoli quente e rápido, seguido dum copo de água que me fez ficar vermelho e despertou a gargalhada na face cansada e atenciosa dela.
Mais calmos, perguntei praquela que a minha frente repousava a cabeça na mão enquanto comia... - Novidades?
A face dela se iluminou quando ouviu meu questionamento e antes de respirar fundo vi seus olhos mais umidos quando com estas palavras abriu meu mundo e me fez o homem mais feliz da terra...
"Tô grávida...."
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